Por: Professor Cardozo
As palavras duras empregadas na entrevista que concedeu ao iG, contudo, não vinham acompanhadas de um tom eufórico. Ciro estava sereno, mesmo quando declarou que “Lula está navegando na maionese”. Na conversa, assumiu pela primeira vez que sua candidatura à presidência da República chegou ao fim. Oficialmente, aguardará a decisão da executiva do partido, marcada parsa o dia 27 de abril, terça-feira da semana que vem. Mas o próprio teor das declarações que fez ao iG indica o grau de entrosamento entre candidato e legenda. Citando nominalmente o presidente nacional do partido, o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, e o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, Ciro disse que os líderes pessebistas “não estão no nível que a História impõe a eles”.
Pela primeira vez, Ciro admitiu também que pode largar a política partidárianeste ano. Ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, ex-ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso e ex-ministro de Lula, Ciro Gomes tem uma carreira política vitoriosa. Aos 53 anos, poderá se ver obrigado a fazer uma parada técnica e ficar de fora da política por dois anos, se se dispuser a voltar na condição de prefeito, ou até quatro anos, se quiser voar mais alto. Terá então 57 anos, jovem para padrões políticos.
A parte mais forte da entrevista concedida ao iG foi reservada ao presidente Lula, a quem acusa pessoalmente de agir de maneira desmedida na tentativa de eleger a candidata Dilma: “Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz.”.
Ciro Gomes afirma que Lula tem a popularidade que merece ter, pois seu governo tem realizações. “Mas ele não é Deus”. Ciro critica a decisão do Palácio do Planalto de interferir no debate interno do PSB e critica ainda o que classifica de subserviência partidária: “Tiraram de mim o direito de ser candidato. Mas quer saber? Relaxei. Eles não querem que eu seja candidato? Querem apoiar a Dilma? Que apoiem a Dilma. Estou como a Tereza Batista cansada de guerra. Acompanho o partido. Não vou confrontar o Lula. Não vou confrontar a Dilma.”
Na entrevista, Ciro Gomes diz que sua presença na eleição cumpriria uma missão. “Trata-se de uma missão estratégica, que não será desempenhada por mais ninguém”. Ciro afirma que não tinha ilusões eleitorais, mas via uma chance de ajudar num debate que, ao seu ver, é urgente. “Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase economica e aparentemente boa, a discussão fica escondida. Mas precisa ser feita.” Segundo Ciro, a candidatura de Dilma Rousseff tem menos chance de enfrentar o problema do jeito que ele precisa ser enfrentado. “Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir”.
Embora prometa acatar a decisão do partido de apoiar a candidata petista, até porque não restam alternativas, Ciro Gomes avisa que não se envolverá na campanha: “Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou. Sei lá. Vai ver viajo, vou virar intelectual. Vou fazer outra coisa”. Ciro acredita que a eleição deste ano será marcada por baixarias, entre as quais inclui uma ação de grupos radicais abrigados no PT: “Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma m….”
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