segunda-feira, 15 de março de 2010

- A JUVENTUDE PÓS 1964 E A POLÍTICA.

A JUVENTUDE PÓS 64 E A POLÍTICA


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Cardozo, Jeorge Luiz*.


A reflexão que hoje faço aqui, no que à realidade brasileira diz respeito, não poderia ser avaliada na sua verdadeira dimensão se não tivéssemos presente o Golpe Militar de 26 de março de1964, que agora completam 45 anos e os seus reflexos junto à juventude.

As inquietações, idéias e propostas aqui contidas são, sobretudo, reflexos da realidade do nosso país, deso golpe militar de 1964 aos dias atuais. Correspondem, portanto a uma fase clara do avanço e recuo do capitalismo e da luta e resistência por parte dos trabalhadores e pelo povo brasileiro, de um golpe que há 45 anos abriu portas para uma democracia hora caminhando e de um processo de avanço desempenhado pelo grande capital e pelos partidos da direita e da social democracia que, a serviço do imperialismo americano e europeu, desenvolvem uma política reacionária e corrupta, aos interesses e aspirações dos trabalhadores e principalmente da juventude.

Todos os projetos político e econômico aplicado no Brasil, durante e logo após o golpe de 1964, foram contrários aos anseios da juventude. O capitalismo com sua ideologia macro-globalizada apoiada pela força dominante do imperialismo norte-americano mostram claramente a inexistência de política setorial capaz, por si só, corrigir as profundas contradições criadas por tais sistemas. Por outro lado, não significa que não tivemos alguns avanços e conquistas, embora poucas e mal aplicadas. De certo que só com a superação do capitalismo individualista por um sistema mais humano e mais social que liberte a humanidade da exploração do homem pelo homem, que leve ao desenvolvimento do sujeito e conseqüentemente da juventude, poderá modificar tal realidade. Porém, não guarda contradição com a necessidade de desenvolvimento da resistência e da luta da juventude em defesa de seus direitos e aspirações, com os diferentes instrumentos que existem ao alcance.

A JUVENTUDE E O GOLPE DE 1964

O golpe de 1964 e sua importância na história e na vida do nosso país querem pelas profundas transformações que proporcionou (nos planos políticos, econômico, social e cultural), quer pelo significado político e o conteúdo reacionário, assume-se de pleno direito como o maior retrocesso acontecido ao povo brasileiro, que contou desde o primeiro momento com a resistência da juventude brasileira.

Durante os quase vinte e cinco anos que durou a ditadura militar a juventude foi das camadas sociais mais afetadas pela política do regime. Principalmente pelas baixas condições de vida da esmagadora maioria da população que se refletiram na juventude de forma bastante evidente, através do desemprego, da ausência completa de direitos no emprego, da fome, da impossibilidade de freqüentar a escola, do analfabetismo, do trabalho infantil generalizado na sociedade brasileira, do abandono escolar, da imposição de uma visão retrógada sobre o papel da família e da mulher, da política, das limitações à livre criação artística e à prática do desporto, da atrofia do movimento juvenil e etc. Foram também muitos dos jovens que passaram pelas cadeias do poder, que pereceram de tortura e das mais horríveis privações e atentados à sua dignidade nas mãos da polícia política do regime.

Esse conjunto de aspectos refletiu-se de forma que grandes lideranças da política e da sociedade civil organizada ou não, no Brasil tiveram de deixar o país. Em especial a juventude estudantil organizada.

Tendo como inspiração as ditaduras de direita, os militares que se apossarem do poder no Brasil procuraram criar as suas próprias estruturas de influências junto à juventude. Notadamente, no nível educacional com a criação de matérias escolares como OSPB (Organização Social e Política Brasileira), que servia de ideologia de recrutamento compulsivo de milhares de jovens para suas fileiras fazendo da apologia do combate ao comunismo a sua principal bandeira.

Com a decretação do AI/5 (Ato Institucional Nº 5) devido ao desenvolvimento de movimentos contrários ao regime, tem início à repressão e perseguições aos opositores do regime, que, ao longo de dez meses manteve o congresso nacional fechado.

Nenhum povo poderá ser livre se oprimir as ações juvenis. Em última análise, os injustificados sacrifícios que o regime militar colocou o povo brasileiro e a juventude foi determinante para a ampliação da consciência política dos jovens em especial, nos meios acadêmicos do nosso país, chamando atenção para a imperiosa necessidade de destruir o regime militar e construir um Brasil livre e democrático.

A participação direta na resistência dos quase vinte e cinco anos do regime militar feita pela juventude foi um elemento presente em todo esse período. Destacamos aqui o papel desempenhado pela juventude socialista o seqüestro do embaixador Norte-Americano no Rio de Janeiro durante o regime e, em seguida, nas lutas operárias dos anos seguintes de transição do regime ditatorial para o regime democrático e das diretas já. Numa escala diferente, também as lutas estudantis desenvolvidas, sobretudo em torno do fora Collor tiveram não só um grande envolvimento como foram responsáveis diretos por seu impeachment.

O levante popular que se segui ao impeachment, desencadeado, sobretudo pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terras (MST), deu o caráter revolucionário às ações praticadas pelos movimentos sociais no Brasil. A participação de grande parte da juventude política desde os primeiros momentos fez se sentir; não só muitos dos militantes do MST eram jovens, como também muitos dos que saíram à rua e que buscam a revolução e suas conquistas.

A conquista da democracia e da liberdade de votar foi às primeiras grandes vitórias da juventude brasileira. Os anos seguintes que nortearam a democratização do país houve inúmera mudança econômica, cultural, política e social. A aprovação em 1988 da mais democrática constituição da república de toda a história do Brasil na altura vem consagrar, de modo geral os ideais de mudanças, um vasto conjunto de direitos que, apesar de todos os esforços para modificá-las, dos diferentes governos a serviço das classes dominantes, ainda hoje se fazem sentir.

Em primeiro lugar, diversos direitos foram conquistados para os trabalhadores – liberdade sindical de reunião e associação, direito a subsídios de desemprego, direito à segurança social, direito à greve entre outros, são algumas dessas conquistas.

Destarte, a consagração ao nível da Constituição de 1988, dos próprios direitos da juventude ter acesso à cultura, ao ensino e ao trabalho, formação profissional, educação física, desporto e aproveitamento dos tempos livres, apoio ao desenvolvimento do movimento associativo juvenil – representou um avanço que transformou a realidade de então.

O voto aos 16 anos, a igualdade entre gêneros perante a lei, os direitos sexuais e representativos, o direito à livre criação artística, o alagarmento das instituições de ensino superior, as campanhas de alfabetização, o certo desenvolvimento da escola pública e democrática, a liberdade do movimento estudantil são algumas conquistas importantes da nova carta.

Além das conquistas acima, é oportuno mencionar com particular resultado na discussão que hoje aqui travamos, foi o poder local democrático e a eleição do presidente Lula em 2002. Mesmo sendo um governo nos moldes neoliberal, esse instrumento veio transformar profundamente a realidade da juventude no país. Objetivamente, deu resposta a muitas aspirações da juventude, pois, a democracia é um importante instrumento de defesa e promoção da cultura e do desenvolvimento das políticas públicas. Desde sempre a juventude socialista, juntamente com outros democratas radicais, estiveram no primeiro plano da realização da obra democrática com um contributo singular. Tudo isso confirmou o caráter democrático e progressista da constituição de 1988, deu resposta as velhas aspirações do povo e da juventude, abriu caminho para um país livre, sobretudo, democraticamente avançando, rumo a uma sociedade socialista. Em nenhuma fase da história do nosso país nos aproximamos tanto da concepção que temos de avanços democráticos, isto é, simultaneamente uma democracia política, econômica, cultural e social, no quadro da soberania e independência nacional. Em nenhum outro momento da nossa história a criatividade e a energia das massas estiveram tão presentes. Pela esmagadora participação popular deram-se avanços históricos nesse país nos últimos anos e a juventude foi seguramente uma das camadas sociais que mais se beneficiaram da liberdade conquistada. O povo brasileiro não tem pedido licença a ninguém. Tem sido um ato maior de libertação. Os jovens têm os seus destinos nas mãos para revolucionar quando preparados para tal situação.

Portanto, desmistificar e cultuar os verdadeiros valores éticos e morais e acabar com a matança de jovens moradores dos guetos em todo o país, criar programas de geração de emprego e renda para a juventude, educação de qualidade e cidadã, são bandeiras importantes de lutas que a juventude brasileira terá pela frente de carregar e ampliar essas conquistas.

jcardozo2009.1@gmail.com

*Cardozo, Jeorge Luiz – Professor da Faculdade Dom Luiz, Graduado em Filosofia (UCSAL/2000) e Especialista em Educação (UNEB/2003).

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