Dificilmente Sairemos da Duplicidade em 2010
O "script" da campanha eleitoral de 2010 já está pronto e sacramentado: uma campanha que não possibilite um debate verdadeiro acerca dos problemas reais do país. Qualquer esforço nessa linha será ofuscado pela troca de acusações de corrupção entre os candidatos e, sobretudo, pela "discussão técnica" dos problemas na imprensa escrita, de rádio e TV.
"Discussão técnica" é o código para esconder o aspecto político dos problemas. Distrai a atenção do público e oculta os interesses que estão por trás das soluções "técnicas".
Dilma, Serra, Ciro e Marina irão se engalfinhar em torno de "soluções técnicas" para o pré-sal, a defesa do meio ambiente, o financiamento eleitoral etc., a fim de não permitir que o eleitorado constate que todos eles são "farinha do mesmo saco", no sentido de que todos, se eleitos, adotarão políticas praticamente idênticas.
O "script" da "campanha bem comportada" responde à necessidade de não permitir que o eleitorado tenha acesso a propostas alternativas, o que poderá ser perigoso para o "establishment" caso os ventos de fora tragam nuvens que possam empanar o céu de brigadeiro no qual navega Lula - o filho do Brasil.
A possibilidade de que a campanha siga comportadamente o "script" enganoso é grande, em parte por causa das brumas que empanam o ambiente político nos arraiais da esquerda.
Fala-se, por exemplo, em unificação dos partidos socialistas. Mas o PSTU lançou candidato unilateralmente e o PSOL debate-se (e irá debater-se até março) em torno da melhor tática para enfrentar a eleição em 2010.
Neste momento, os ventos sopram ligeiramente em favor da tática baseada na candidatura própria do PSOL. Caso a tese seja vencedora na Conferência Eleitoral do partido (agendada para março próximo), e caso o candidato escolhido esteja, de fato, disposto a transgredir o "script", haverá debate real de alternativas. Claro, esse discurso terá poucas chances de vencer o pleito, mas terá toda a chance de criar um patamar de consciência política importante para a reconstrução do movimento socialista no país.
A unificação das centrais sindicais autênticas (Conlutas e Intersindical), prevista para formalizar-se em março próximo, contribuirá sem dúvida para a unificação das esquerdas e, portanto, para o acúmulo político requerido para futuros passos.
Os economistas prevêem que 2010 será um ano menos favorável para a economia brasileira do que 2009. Caso esses prognósticos se confirmem, dificilmente Lula tomará as medidas drásticas que se farão necessárias para defendê-la. Isto aumentará exponencialmente a necessidade de produzir um "saco de maldades" terrível em 2011 – tarefa inglória que legará aos seus sucessores.
Com dificuldades ou sem dificuldades, a situação social continuará a agravar-se ameaçadoramente em 2010, sem que o "establishment" burguês consiga um mínimo de unidade para executar alguma política eficaz de atenuação da pobreza e de combate ao crime organizado.
Muito provavelmente, não será em 2010 que o Brasil sairá da trágica dualidade que caracteriza a conjuntura atual: na superfície, uma relativa estabilidade; no subterrâneo, uma avassaladora deterioração do tecido moral do Estado.
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