quarta-feira, 23 de novembro de 2011

- Crise e eleições

por Ivan de Carvalho



  Impressiona o fato de que, três anos antes das eleições presidenciais de 2014 e com as eleições municipais de 2012 no caminho, já estejam de prontidão para uma eventual investida em direção ao Palácio do Planalto pelo menos cinco aspirantes. Três deles são do PT, o partido que trabalha duro para conquistar a hegemonia política no país, mas ainda tem uma parte importante do caminho até alcançar esta situação e consolidá-la.
Aliás, teria o PT pela frente menos caminho a percorrer se não estivessem a União Europeia e o Estados Unidos mergulhados em uma crise financeira e econômica que já contaminou seriamente a política nesses dois entes. Vale assinalar que há uma grande sinergia entre a crise na União Europeia e nos Estados Unidos.
Assim é que a crise explodiu primeiro nos Estados Unidos, usando como estopim os chamados títulos sub-prime, representando a ganância de lucros em negócios irresponsáveis de altíssimo risco, enquanto a União americana esvaía-se em déficit orçamentário fortemente acentuado pelas guerras no Afeganistão e no Iraque.
Ao explodir espetacularmente nos Estados Unidos, a redução da “confiança dos mercados” e a realidade das relações econômicas entre a economia americana e economia da União Europeia acabaram impondo fase aguda da crise à EU, dentro da qual alguns países importantes ou relevantes já vinham apresentando problemas próprios. A impressão que se tem hoje é que na União Europeia ainda vai se agravar muito – a França já balança e a Alemanha, sozinha, não tem como tapar as brechas na represa e, devido às circunstâncias americanas, não tem como receber a ajuda dos Estados Unidos.
E nossa eleição presidencial com isso?
Bem, é que a crise nos Estados Unidos e União Europeia (com um agudíssimo complicador político na perigosa bagunça no mundo árabe e as intenções cavernosas do regime iraniano) tem tudo para afetar com força a economia brasileira. Nessas prováveis circunstâncias, a natural candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff poderá se revelar seriamente ameaçada.
Se Dilma ou o PT virem que Dilma não dá, então a alternativa será o ex-presidente Lula. Isso era óbvio até ser descoberto o seu câncer de laringe. Agora, Lula continua sendo a principal alternativa a Dilma no PT, mas, ainda que se possa torcer e rezar, já não se pode considerar tão óbvio enquanto não for constatada a cura. O tratamento, com grandes chances de êxito, está em curso, fase inicial.
Caso sejam inviabilizadas as candidaturas de Dilma e Lula em 2014, talvez nada reste ao PT senão o governador da Bahia, Jaques Wagner. O Escândalo do Mensalão, em 2005, guilhotinou, para efeito de candidatura a presidente da República, algumas lideranças petistas. E o ex-ministro Palocci cuidou de pôr o próprio pescoço sob a lâmina, em duas oportunidades. Wagner atravessou a tempestade sem se molhar.
Mas se realmente a crise chegar fundo no Brasil, isto significará que nem só do PT poderá sair o futuro presidente. O PSB, hoje na área governista, tem dois nomes em campo, Ciro Gomes (já por duas vezes candidato a presidente) mais claramente, Eduardo Campos, governador de Pernambuco e controlador do PSB, discretamente. No PSB, um exclui o outro, é claro. O PSB seria o “caminho do meio”.
O caminho exposto, vistas de hoje as coisas, seria o PSDB com Aécio Neves ou, numa hipótese menos provável, o teimoso José Serra. Mas, e o PMDB, com sua recente estratégia de disputar campeonato para ter torcida, o que faria ante uma conjuntura marcada pela crise, com o governo enfraquecido? Eis aí um mistério.

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