Por Jeorge
Cardozo
A formação política, ideológica e social do individuo é inesgotável. São
inúmeros os seus objetos de estudos e as possibilidades de interpretação. Por
isso não existe um conhecimento da organicidade acabado ou parado no processo
histórico linear alienado. Há divergências, contrapontos, formas dialéticas
para entender e capacitar sujeitos comuns na formação política ideológica, na
compreensão da hegemonia e contra-hegemonia, presentes nas chamadas associações
com caráter eminentemente, político imediato e de interesse escuso de individuo
ou de pequeno grupo. Procurar no meio do joio do trigo lideranças que tenham
compromisso histórico inquestionável e ético que sintetize e defina o sentido dos
movimentos sociais, o pensar e o agir dos liderados seria admitir uma história
com sentido determinado, previamente conhecido pelo agir público. O movimento
social é, ao contrário, o espaço do inesperado, do imprevisível.
A interpretação dos movimentos sociais tem um forte vínculo com as
questões hegemônicas e contra hegemônicas que são vividas em cada época do
desenvolvimento dos modelos econômicos e das classes que as dominam. O
interesse que, hoje, me faz analisar tal fato, foi à última reunião palestra organizado
pelo Movimento de Sem Teto Almeidense, no último dia 06 de abril do presente
ano, na Câmara Municipal local, preconizada pelo líder local do movimento,
senhor Lôzo, difere com certeza daquilo que penso sobre organização social,
pois, não pode haver movimento social eficaz, sem formação política e
ideológica. O trabalho do líder de movimento social, a priori, é dar formação
política e ideológica aos liderados para que os mesmos entendam o sentido de
causa, efeito e conseqüência da causa em luta, envolvidas com as questões do
seu tempo, não é um trabalho neutro, de alguém que possa julgar,
imparcialmente, o que está se lutando e redefinir os caminhos da luta em
questão.
As reflexões e as análises feitas por mim neste texto sobre os movimentos
sociais nos tempos modernos buscam inserir os lideres e os liderados dos
movimentos sociais no contexto da discussão preocupado com a atual crise da
modernidade capitalista. O nosso objetivo é contribuir para a formação política
e ideológica daqueles que, de alguma forma milita ou quer militar nos
movimentos sociais, de modo a prepará-lo para enfrentar a hegemonia que aflige
a humanidade com um falso consenso denominado de democracia capitalista
burguesa nesse inicio de milênio.
A construção do mundo moderno contra-hegemônico não pode mais ser compreendida
na exclusiva perspectiva das relações econômicas imposta pelo capitalismo e
seus atores, tomam como determinante apenas o crescimento e fortalecimento da
produção capitalista. Temos que superar as concepções reducionistas que ainda
resistem nos movimentos sociais tradicionais. Optamos francamente pelas
múltiplas determinações e valorizamos aspectos fundamentais da modernidade
presente nos movimentos sociais que têm sido negligenciados por grande parte de
seus lideres que, envolvidos em interesses pessoais mesquinhos ou de pequenos
grupos com status quo locais, regionais e nacionais, usam o movimento social
despolitizadamente, como forma de manipular, usar e depois descartar. Além das
disputas pelo poder e dos interesses escusos e mesquinhos individuais, o
movimento social também é lugar de concepções de mundo contra-hegemônicas
explicado pelo próprio fazer histórico, das diferentes maneiras de se viver
organizadamente. Os sonhos, os desejos, as utopias fazem parte da historia,
representam a vontade do homem, as suas insatisfações levam-nos a questionar e
a buscar uma nova sociedade de iguais na prática e, não só nos documentos
oficiais e nos discursos demagógicos presentes no dia a dia. Eles os levam a operar
organizadamente as mudanças concretas na maneira de produzir o social. Mesmo
aqueles que não são tão letrados, são capazes de se organizar politicamente e
ideologicamente e criar a contra hegemonia e contribuírem para que a sociedade
estabeleça novos caminhos de igualdade social de fato e não fique só nas
aparências.
Essas concepções multifaceada impostas aos movimentos sociais feitas por
falso liderem não significa, entretanto, uma fragmentação definitiva destes,
ele apenas, momentaneamente, pela falta de formação política e ideológica da
maioria dos seus lideres e liderados que se encontram desconectados entre si,
do contexto político contra hegemônico nascente. Muito ao contrario, a contra
hegemonia é integrada com os movimentos sociais. Tanto assim que nem sequer um
representante do poder político municipal se fez presente. Os lideres de movimentos
sociais encontrará na própria luta, companhia e vitória na abrangência imposta
ao movimento, inserida numa compreensão mais ampla. Esperamos que a nossa
contribuição pudesse ser analisada pelos lideres e liderados e demais
interessados, na sua profundidade, para que os tiros não continuem a saírem
pela culatra. Digo isso, pois, sempre ouço de lideres comunitários que não
tiveram uma formação política e ideológica por menores, dizerem que foram
usados pelo sistema, isso ocorre exatamente por isso, pela falta de
profundidade desses lideres na causa em questão.
Por
fim, saúdo o camarada Lozo, pela iniciativa de iniciar o debate e nos convidar
para dar as nossas contribuições. Digo mais, na qualidade de quem quer
contribuir, que um movimento não se faz isolado, é preciso ter um grupo coeso e
com interesse coletivo e contra hegemônico também coletivo.
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