quinta-feira, 16 de setembro de 2010

- Sete passos para erradicar o analfabetismo

Por: Professor Cardozo


Políticas Públicas


Modalidades EJA

Conheça as melhores soluções encontradas pelas cidades brasileiras que estão conseguindo alfabetizar toda a população adulta

Educação de Jovens e Adultos

Num país com dimensões continentais como o Brasil, nem sempre é fácil chegar até quem precisa ser alfabetizado. E, mesmo nas áreas mais urbanizadas, onde o acesso aos iletrados é teoricamente mais fácil, a maioria das secretarias de Educação não dispõe de estatísticas confiáveis sobre quem são os analfabetos do município.

O método mais tradicional - usar a divulgação na própria escola para atingir estudantes em potencial - nem sempre funciona. "As campanhas de alfabetização têm resultados insuficientes porque o cartaz não é a melhor forma de atrair os possíveis alunos. Visitá-los, conhecer a realidade em que vivem e conversar é a melhor forma de chamá-los para estudar", afirma Sonia Giubilei, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos (Gepeja), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Em Curitiba, a ideia bem-sucedida foi aproveitar o cadastro da Fundação de Assistência Social (FAS) para identificar os moradores de rua que não sabiam ler e escrever. Em regiões mais inóspitas, como Silves, a 330 quilômetros de Manaus, a "caçada" exigiu viagens de barco pela região (leia o destaque ao lado). "Depois que fomos atrás dos alunos e formamos a primeira turma, que deu certo, a procura aumentou", conta o professor José André Viana.

1. Encontrar quem precisa ser alfabetizado

2. Criar horários de aula para atender todos os públicos

3. Investir na formação dos professores da EJA

4. Combater os altos índices de evasão na EJA

5. Oferecer materiais didáticos adequados à faixa etária

6. Aumentar os investimentos na EJA

7. Incluir jovens e adultos com deficiência

Conheça as melhores soluções encontradas pelas cidades brasileiras que estão conseguindo alfabetizar toda a população adulta

2 Criar horários de aula para atender todos os públicos

ESTUDO DE MANHÃ, À TARDE E À NOITE Ao disponibilizar a EJA em três turnos, o CMET Paulo Freire atende públicos distintos em cada período (acima, da esquerda para direita, as turmas da manhã e da noite). No Brasil, porém, predomina o turno noturno, que contempla mais os trabalhadores.Na alfabetização de jovens e adultos, há diferentes perfis de alunos. Existem os aposentados com tempo livre, os adolescentes que trabalham durante todo o dia, profissionais que fazem bicos etc. Para que todos tenham a oportunidade de se alfabetizar, é fundamental levar em conta essas diferentes realidades. Oferecer diversos turnos é uma das maneiras de facilitar o acesso, pois é fundamental que os alunos consigam aliar as aulas ao seu dia a dia.

No Centro Municipal de Educação do Trabalhador Paulo Freire (CMET Paulo Freire), em Porto Alegre, existem horários para todos os públicos (leia o destaque acima). Flexibilizar a duração das aulas também é outro incentivo para aqueles que têm uma rotina mais dura. Em Curitiba, as aulas nas turmas de EJA de 1ª a 4ª série para moradores de rua duram apenas duas horas. "Os alunos costumam ter baixa capacidade de concentração e, por isso, achamos mais conveniente estabelecer esse limite. As aulas também são à tarde, já que, à noite, muitos trabalham em bicos nas ruas, como guardadores de carros", conta a professora Elizabeth Meucci.

Trabalhadores sazonais também merecem um esquema especial. "Nas zonas rurais, as pessoas estão condicionadas aos ciclos das safras. A escola deve se moldar a isso", afirma Márcia Oliveira, coordenadora da EJA do Instituto Paulo Freire. Em São João do Oeste, a 691 quilômetros de Florianópolis, de economia essencialmente agropecuária, 33% das aulas da alfabetização na EJA são presenciais e o restante é completado por meio de pesquisas e lições de casa. Há atividades pelo computador e tudo é corrigido pelo professor, que leva para casa as atividades e devolve tudo comentado. Segundo o Censo de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade tem o menor índice de analfabetos do país: 0,91%.

* Considerando os matriculados na EJA de primeiro segmento do Ensino Fundamental. Fonte: IBGE 3 Investir na formação dos professores de EJA

COORDENAÇÃO PARA AJUDAR A EVOLUIR

Em Salvador, todo alfabetizador da EJA

conta com coordenador pedagógico que

assiste a suas aulas e as analisa

semanalmente, usando a observação

como subsídio para a formação continuada.

Os próprios coordenadores têm formação

contínua e são acompanhados de perto

por coordenadores gerais da Secretaria da

Educação. A aposta na capacitação, claro,

exige mais investimentos. No Brasil,

porém, o gasto por aluno de EJA segue

abaixo do das demais etapas de ensino.

É consenso entre os especialistas que a formação dos professores é o fator de maior impacto na qualidade do trabalho e no resultado positivo dos alunos. Entretanto, muitos programas de EJA apostaram no voluntariado despreparado para dar aulas, como se qualquer pessoa que soubesse ler e escrever fosse capaz de alfabetizar, o que está muito distante da verdade.

Mesmo quando se trata de formação de docentes, há sérios problemas. O principal é que a formação inicial pouco aborda a EJA. Segundo pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC), realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC), a etapa é abordada em apenas 1,5% do currículo. Por isso, o investimento em formação continuada é imprescindível. O ideal é que ele inclua uma rede de apoio dentro da própria escola, como ocorre em Salvador (leia o destaque ao lado).

Em Porto Alegre, além do investimento na formação continuada, investe-se também na valorização do professor da EJA. Na rede municipal, são 450 docentes com plano de carreira idêntico ao dos que lecionam na rede regular. O resultado disso é que os educadores acabam investindo mais na própria formação (95% deles têm pós-graduação). Para Vera Masagão Ribeiro, coordenadora da ONG Ação Educativa, na capital paulista, a política é acertada. "Muitos professores encaram a EJA como uma forma de bico. É preciso resolver essas questões estruturais para o segmento se profissionalizar."

4 Combater os altos índices de evasão na EJA

Na EJA, manter os alunos em sala envolve permitir que eles conciliem as aulas com o trabalho e os afazeres domésticos. Também é preciso lidar com o fato de muitos já terem estudado e parado, o que requer cuidados em dobro para que não desistam novamente.

Procurar saber o motivo das faltas ou do desânimo dos alunos é a saída em Itapiranga, a 350 quilômetros de Manaus. Por lá, faz parte da rotina dos professores a busca pelos alunos que se ausentam muito ou que ameaçam abandonar a escola. "Ninguém no município falta mais de três dias sem receber uma visita. Buscamos entender os motivos e, com base neles, pensamos com o estudante as alternativas para que ele possa recuperar o conteúdo perdido", afirma o secretário municipal de Educação, José Melquias Josebec Santos.

O foco no aprendizado também faz parte do cardápio de Guajará, a 1.476 quilômetros de Manaus. Quando alguém falta, o professor vai até a casa passar as atividades do dia anterior. O cuidado fez com que a taxa de evasão na alfabetização de jovens e adultos do município tivesse a média de 7%, enquanto a nacional é de 32%.

Razões para abandonar a EJA*

* Considerando os matriculados na EJA de primeiro segmento do Ensino Fundamental. Fonte: IBGE 2007

Oferecer materiais didáticos adequados à faixa etária

RECURSOS COM A CARA DA EJA

Em São João do Oeste, SC, os livros

específicos preparados pela equipe

pedagógica do município privilegiam

temas atuais. Materiais adequados

ajudam a evitar desistências por perda

de interesse ou dificuldade, a razão

principal de abandono.Ignorar o percurso de vida do adulto na hora de alfabetizá-lo é um dos equívocos mais recorrentes cometidos na EJA(conheça outros no quadro abaixo). Os materiais didáticos e a metodologia de ensino precisam tratar daquilo que interessa ao aluno e faz parte do seu universo. Nesse aspecto, a novidade positiva é que a partir do ano que vem o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do MEC, disponibilizará obras voltadas à EJA. Para acompanhá-las, o ideal é que cada município produza seu próprio material, contemplando o contexto da região.

Em São João do Oeste, a qualidade dos livros elaborados pela equipe da secretaria é um dos fatores que contribuem para o baixo índice de analfabetismo (leia o destaque ao lado). Em Guajará, há um trabalho de Matemática, com o ensino de noções do sistema numérico e de geometria, com atividades que envolvem dinheiro, reconhecimento de cédulas e cálculos de compra e venda de materiais manipulados no extrativismo e na pesca, atividades que fazem parte do dia a dia da maioria dos alunos.

Os erros mais comuns

- Usar livros e materiais infantis. É preciso envolver os adultos na alfabetização com temas que lhe dizem respeito, como o mercado de trabalho e questões da atualidade.

- Desconsiderar as razões de cada um para voltar à escola. Para alfabetizar um adulto, é necessário ouvi-lo. Por que ele quer aprender a ler e escrever? Para redigir cartas? Ou ainda para lê-las em segredo, sem a necessidade de compartilhar as notícias com vizinhos? Tudo isso deve ser considerado para que a aprendizagem ganhe sentido.

- Não respeitar o nível de cada um. Adultos têm perfis, idades e ritmos de aprendizagem variáveis. O ideal é o acompanhamento individual, sem fazer comparações com colegas.

6 Aumentar os investimentos na EJA

Para combater o analfabetismo, é necessário que tanto o Governo Federal como estados e municípios priorizem o investimento na EJA. A parceria entre prefeitura e União foi a estratégia do avanço em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, que reduziu o total de analfabetos em 31% entre 2001 e 2009. Em muitos municípios, porém, é preciso melhorar a infraestrutura da modalidade, com a criação de mais centros de alfabetização.

Segundo Vera, o ideal é que a EJA tenha seus próprios espaços ou ocorra dentro de espaços de locais destinados a adultos, como universidades públicas e privadas, com murais, cantinas e horários adequados. "A EJA, no Brasil, ainda está à mercê dos horários de funcionamento das escolas da Educação Básica. Não se oferecem vários turnos justamente porque os horários já estão tomados pelo ensino regular. Além disso, é comum os adultos estudarem em salas com temáticas e materiais infantis dispostos nas paredes", enumera a especialista.

Investimento mínimo por aluno (em reais)*

* Considerando os valores de referência para o Fundeb 2010. Fonte: FNDE

7 Incluir jovens e adultos com deficiência

INCLUIR TAMBÉM JOVENS E ADULTOS

O aluno com deficiências múltiplas Renato

Dias Queiroz (de verde) aprende com

colegas e professores na EM Diógenes de

Mendonça Ribeiro, em Niterói, RJ. Ele é

um representante da pequena fatia de

estudantes com necessidades

educacionais especiais matriculados na

EJA.

Cidades brasileiras livres do analfabetismo

Prática adequada aos adultos

ESPECIAL

Educação de Jovens e Adultos

Assim como no ensino regular, para que os alunos com deficiência possam ser incluídos, é necessário que o professor saiba flexibilizar o currículo de acordo com o potencial de aprendizagem de cada um deles. O objetivo principal é envolvê-los efetivamente na aprendizagem, garantindo os recursos necessários para atender a suas necessidades, como ocorre em Niterói (leia o destaque ao lado). Integrá-los a trabalhos em grupo, estabelecendo um fluxo de colaboração e possibilitando que eles participem de acordo com sua capacidade, é um passo fundamental para um processo de inclusão eficiente.

Em outros momentos, é necessário flexibilizar materiais ou o próprio planejamento. Como às vezes esses estudantes precisam faltar por causa de compromissos médicos, o docente necessita prever tempo para a recuperação de conteúdos.

Fonte: MEC/INEP 2005

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